A agilidade do consumo ou a insaciável busca pelo prazer no mundo contemporâneo

Em meados dos anos 2.000, no início da minha adolescência, lembro bem da euforia que acompanhava a ida a uma livraria, ou a uma loja de discos. O dinheiro da mesada poupado por um ano e a sensação de ter que escolher, entre tantas opções, um único produto que me acompanharia por meses. E quantas vezes a mãe não repetia “vai furar esse CD, menina!”? E assim era a nossa relação com cultura em uma época preliminar à ascensão do YouTube, Spotify, Deezer, Netflix, entre outros sites que oferecem um “fast culture”, a qualquer momento, de qualquer lugar, de graça ou por um valor acessível.

Não estou aqui para ser nostálgica – admito as vantagens de se ter um lançamento imediatamente à minha disposição, e milhares de produções musicais e audiovisuais a um clique de distância – para não falar da grande quantidade de conteúdo gratuito na rede, como, por exemplo, todas as fantásticas obras literárias que já entraram em domínio público. Acontece que, naquela época, tínhamos relações mais duradouras e, por que não dizer, sinceras e fortes com os produtos que consumíamos.

Há um CD de P!nk que consegui adquirir com anos de atraso, devido a uma promoção em uma loja de discos (certamente, extinta) no Centro de Fortaleza. Até hoje sei as músicas de cor – se calhar, até mesmo a ordem delas – tanto foi o meu envolvimento com a obra ao tempo. O ritual envolvia não apenas escutar, mas aprender a cantar, traduzir manualmente todos os versos, e ter sempre em mãos o encarte do disco, com belas fotos e letras completas. O mesmo aconteceu com “Oops, I did it again”, de Britney Spears, doado por um primo que, lembro bem, tinha estantes cheias de CD’s e eu achava aquilo o ápice do luxo e da ostentação.

Hoje, ao contrário, ouvimos dezenas de músicas no mesmo dia. Por vezes, pulamos a canção antes que finalize, devido à vontade de ouvir a próxima opção – afinal, opções não nos faltam. Fica o sentimento de familiaridade e “ouvi isso em algum lugar” na cabeça, mas que raramente se consolida em envolvimento real com o artista ou com a obra.

Na Netflix, a maior parte de nós tem mais obras na “Minha Lista” que em “Assistidos”; muitos vão ao cinema para driblar o tédio em alguns minutos de WhatsApp; nossas estantes estão recheadas de livros que compramos e muito provavelmente nunca serão lidos. Quando o prazer de conhecer cedeu espaço para o de consumir deliberadamente? O que acontece é que nossa necessidade de adquirir é maior que a nossa vontade de realmente absorver. E precisamos refletir sobre esse estranho comportamento coletivo – e as consequências dele.

Sobre o autor: Andressa Vieira
Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema, Marketing Estratégico e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora da Atena.

Uma resposta

  1.           O principio de prazer e o fundamento psicologico da sociedade do consumo. Este principio nao e afetado pelo tempo, ignora valores bem e mal, moralidade, esforca-se simplesmente pela satisfacao de suas necessidades instintivas.  Ele e compulsivo em sua propria essencia. Dai a explicacao para as compulsoes e a descarga emocional que os produtos da sociedade do consumo propiciam.  O consumo propicia uma grande prazer aliviando as tensoes do dia-a-dia enfrentado por milhoes de seres humanos.

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