A cena é um show de uma banca icônica do pop noventista. Milhares de fãs, na casa dos seus 30 anos, se amontoam, entre pulos, gritos e lágrimas. Os olhares, fixos.
No celular.
Esse foi o cenário com o qual me deparei há pouco mais de um ano e meio, quando fui ao show da banda Hanson, em São Paulo. Não muito diferente foi o show da diva country Shania Twain, ao qual tive a oportunidade de comparecer em sua única apresentação no Brasil, na Festa do Peão de Barretos, em agosto do ano passado.
“Os meios são extensões do homem.”
Defendeu em vida o famoso e coerente filósofo Marshall McLuhan. Para ele, as tecnologias, consideradas extensões do homem, são qualquer artefato produzido por nós. Nascemos apenas com nossos sentidos, porém, ao longo da vida, vamos construindo e incorporando ferramentas que os aperfeiçoam – as chamadas “extensões”.
Mais que extensões, por meio das quais expandimos os nossos sentidos, os meios se tornam próteses. Ou seja, dependemos deles para sentir. Para muitos, é inimaginável ir à praia e não publicar uma foto da paisagem (observamos pela tela). Ou ir a um espetáculo e não ter como principal preocupação registrar todos os momentos, seja por vídeo ou fotografias. Ou, finalmente, juntar o dinheiro suficiente para comer em um restaurante famoso e desperdiçar todo o tempo produzindo stories, em vez de concentrar as atenções em apurar a experiência gastronômica.
Terceirizamos as nossas emoções às máquinas. Optamos, mesmo sem delas precisar, pelo uso de próteses – que não contribuem para as nossas emoções, mas apenas para a visibilidade que queremos que tenham. Ao terceirizar nossos sentidos, relegamos nossas emoções à inoperância.
E nos assumimos máquinas – ao passo que entregamos de bandeja o protagonismo à tecnologia que criamos.