O jornalista e a síndrome de Dorian Gray

Dorian Gray é um personagem curioso da literatura britânica. Criação do controverso escritor Oscar Wilde na transição entre os séculos XIX e XX, Dorian pode ser compreendido como uma representação da sociedade jovem burguesa da época: muitos sonhos e potencialidades, mas uma mente frágil associada a um determinismo social pode provocar desastres.

Dito isto, enveredo na escrita deste texto com tom metafórico e comparativo entre o personagem Dorian Gray e o jornalista contemporâneo. Podemos conceber que, apesar da distância temporal, há características que merecem ser consideradas.

Assim como o jovem Dorian Gray, o jornalista detém um glamour natural decorrente de sua mera existência (quem já sentiu um olhar diferente ou uma expressão de admiração após se autoproclamar jornalista sabe do que falo). No entanto, em um tempo em que valores como a ética, a determinação e o conteúdo verídico perdem força para o imediatismo, os ícones das mídias sociais e as fake news, o jornalista sente-se frustrado pela crise que assombra e coloca em xeque não apenas o seu trabalho, mas a sua existência.

Da mesma forma, angustia-se Dorian Gray ao se dar conta de que sua beleza e pureza não seriam sempre suficientes para uma vida de conforto, reconhecimentos e méritos. A dor da possibilidade de não ser mais percebido provoca uma decisão que anula a essência que deveria ser preservada, dando espaço a uma versão diferente de si mesmo, em troca da mera garantia de perenidade do corpo, ou, no caso do jornalista, do espaço de visibilidade.

Assim, o jornalista opta por “vender a sua alma”. Seja para o imediatismo (em troca da credibilidade da informação); seja para o sensacionalismo (em troca dos likes nas mídias sociais); ou para o infotenimento (em troca da garantia da popularidade). É preciso refletir sobre a missão do profissional do jornalismo e entender que, assim como prenuncia a famosa canção, “Romance é romance, / amor é amor, / e um lance é um lance”, digital influencer é digital influencer, comediante é comediante e jornalista é jornalista.

A quantificação do público é importante, mas para definir qual a sua posição em meio a tantas personas que se comunicam com prioridades diferentes, é importante perguntar: o que mais importa para você? O sucesso dos likes ou a qualidade do conteúdo?

Sobre o autor: Andressa Vieira
Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema, Marketing Estratégico e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora da Atena.

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